quinta-feira, 15 de maio de 2014

Maranhão em Contos - Apresentação

Duas palavrinhas definem bem os motivos que me levaram a montar este ebook: a palavra alemã ‘Heimat’ e a palavra portuguesa ‘saudade’, ambas consideradas de difícil tradução. No caso de ‘Heimat’, muito mais do que terra natal, diria que é aquilo que faz referencia tanto ao lugar em que uma pessoa nasceu e se criou, quanto às suas experiências na infância.
A meu ver, ‘Heimat’ é muito mais do que apenas terra natal ou pátria; são as origens, os costumes, a cultura, a língua, as pessoas, os cheiros, os sabores, as texturas, tudo o que (geralmente de bom, mas não necessariamente) conseguimos recordar quando evocamos as expressões ‘infância’, ‘família‘ e ‘terra natal’.
E ‘saudade’... bem, ‘saudade’ não significa só melancolia, ‘saudade’ é uma fotografia antiga, um registro bom de algo que passou, “... um silvo vago de longe na tarde muito calma.” (1), como Pessoa declarou.
Diria que saudade foi o motivo maior. A vontade de (re)-sentir — sentir outra vez, digo, adoro essa liberdade de expressão que as línguas nos proporcionam: inventar palavras para o que não se pensa ou sabe haver, criar expressões para o indizível, e foi assim que ‘saudade‘ e ‘Heimat‘ passaram a existir, disso não duvido. — Portanto: voltar a sentir, ‘re-sentir‘ os cheiros e os gostos, buscar sotaques e sons familiares nas entrelinhas fez-me pedir a Antonio Fernando Sodré Júnior, Antônio Maria Santiago Cabral, Eveline Sá, José Neres, Lenita Estrela de Sá e Marcos Fábio Belo Matos que, através de seus textos, trouxessem um pouco do Maranhão para este volume, não só do Maranhão que trago no peito, claro, que este não se deixa conhecer por outrem, mas do Maranhão sentido por quem teve a mesma origem e provou do mesmo manancial cultural e literário, que segue desconhecido em grande parte do Brasil.
E estes autores me deram a honra de suas participações, gentilmente atendendo ao meu convite e permitindo que agora haja no Quintextos uma amostra deste sabor literário peculiar, coisa boa, coisas da terra: doce de espécie, jussara com camarão, casquinha de caranguejo recheada de mar.
E como não há só o que é bom no mundo, alguns textos trazem, ao invés do doce, um pouco da amarga realidade da terra, uma crítica não aos problemas sociais, velhos conhecidos, mas ao descaso de quem poderia fazer algo pela gente, mas não faz. Além de tons bem-humorados e coloridos do cotidiano e das lembranças, algumas narrativas trazem o cinza das crises existenciais e outras questões tão humanas, que ora nos levam a sorrir, ora a pensar seriamente. Porém, o ponto em comum dos textos desta coletânea é ter algo típico do Maranhão: seja em ‘falares’, lugares, ‘sentires’ e ‘queixares’; seja no jeito peculiar maranhense de ser e viver.
Com imensa alegria editei este ebook e com enorme satisfação compartilho-o, para que cheguem bem longe as histórias, os cheiros, sotaques e gostos do Maranhão, o talento de escritores novos, outros nem tão noviços assim na via das Letras, com comprovado talento mas que seguem não tão conhecidos no resto do país: enfim os encantos (em cantos e em contos) deste pedaço do Brasil, e o que é melhor: em diferentes visões.
As fotos do volume foram feitas por mim mesma, em diferentes ocasiões e lugares do Maranhão. Elas não têm qualquer pretensão artística, visaram fotografar o natural do momento, coisa que, a propósito, é bem difícil de se alcançar.
Eis então o volume inteiro à sua disposição para degustacão. “¡Que le guste!” Voilà!
Helena Frenzel.

(1) Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), Como um Grande Borrão, in O Guardador de Rebanhos, texto já em domínio público.





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