Duas palavrinhas
definem bem os motivos que me levaram a montar este ebook: a palavra alemã
‘Heimat’ e a palavra portuguesa ‘saudade’, ambas consideradas de difícil
tradução. No caso de ‘Heimat’, muito mais do que terra natal, diria que
é aquilo que faz referencia tanto ao lugar em que uma pessoa nasceu e se criou,
quanto às suas experiências na infância.
A meu ver, ‘Heimat’ é
muito mais do que apenas terra natal ou pátria; são as origens, os costumes, a
cultura, a língua, as pessoas, os cheiros, os sabores, as texturas, tudo o que
(geralmente de bom, mas não necessariamente) conseguimos recordar quando
evocamos as expressões ‘infância’, ‘família‘ e ‘terra natal’.
E ‘saudade’... bem,
‘saudade’ não significa só melancolia, ‘saudade’ é uma fotografia antiga, um
registro bom de algo que passou, “... um silvo vago de longe na tarde muito
calma.” (1), como Pessoa declarou.
Diria que saudade foi
o motivo maior. A vontade de (re)-sentir — sentir outra vez, digo, adoro
essa liberdade de expressão que as línguas nos proporcionam: inventar palavras
para o que não se pensa ou sabe haver, criar expressões para o indizível, e foi
assim que ‘saudade‘ e ‘Heimat‘ passaram a existir, disso não duvido. —
Portanto: voltar a sentir, ‘re-sentir‘ os cheiros e os gostos, buscar
sotaques e sons familiares nas entrelinhas fez-me pedir a Antonio
Fernando Sodré Júnior, Antônio Maria Santiago Cabral, Eveline Sá, José Neres,
Lenita Estrela de Sá e Marcos Fábio Belo Matos que, através de seus
textos, trouxessem um pouco do Maranhão para este volume, não só do Maranhão
que trago no peito, claro, que este não se deixa conhecer por outrem, mas do
Maranhão sentido por quem teve a mesma origem e provou do mesmo manancial
cultural e literário, que segue desconhecido em grande parte do Brasil.
E estes autores me
deram a honra de suas participações, gentilmente atendendo ao meu convite e
permitindo que agora haja no Quintextos uma amostra deste sabor
literário peculiar, coisa boa, coisas da terra: doce de espécie, jussara com
camarão, casquinha de caranguejo recheada de mar.
E como não há só o que
é bom no mundo, alguns textos trazem, ao invés do doce, um pouco da
amarga realidade da terra, uma crítica não aos problemas sociais, velhos
conhecidos, mas ao descaso de quem poderia fazer algo pela gente, mas não faz.
Além de tons bem-humorados e coloridos do cotidiano e das lembranças, algumas
narrativas trazem o cinza das crises existenciais e outras questões tão
humanas, que ora nos levam a sorrir, ora a pensar seriamente. Porém, o ponto em
comum dos textos desta coletânea é ter algo típico do Maranhão: seja em ‘falares’,
lugares, ‘sentires’ e ‘queixares’; seja no jeito peculiar
maranhense de ser e viver.
Com imensa alegria
editei este ebook e com enorme satisfação compartilho-o, para que cheguem bem
longe as histórias, os cheiros, sotaques e gostos do Maranhão, o talento de
escritores novos, outros nem tão noviços assim na via das Letras, com
comprovado talento mas que seguem não tão conhecidos no resto do país: enfim os
encantos (em cantos e em contos) deste pedaço do Brasil, e o que é melhor: em
diferentes visões.
As fotos do volume
foram feitas por mim mesma, em diferentes ocasiões e lugares do Maranhão. Elas
não têm qualquer pretensão artística, visaram fotografar o natural do momento,
coisa que, a propósito, é bem difícil de se alcançar.
Eis então o volume
inteiro à sua disposição para degustacão. “¡Que le guste!” Voilà!
Helena Frenzel.
(1) Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), Como um Grande
Borrão, in O Guardador de Rebanhos, texto já em domínio público.
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