Por Celêdian
Assis de Sousa
Rubi era o
pseudônimo de Deiviny Cristine, quando ela pela primeira vez entrou em uma sala
de bate papo, em um destes sites de relacionamentos. Não era assim como hoje,
tudo às claras, em que se expunham fotos, ou que as pessoas se apresentavam
frente a uma câmera de computador. Aquilo parecia-lhe mágico, já que imaginar
como seria Topázio, pseudônimo de Kelvin, sua primeira paixão, era um exercício
fascinante, excitante e ela podia criar em sua mente o protótipo de um príncipe
encantado.
Kelvin, homem
elegante, alto, cabelos e olhos castanhos, trinta e oito anos, bem sucedido nos
negócios, era a sua apresentação. Ele tinha certeza que ganhara logo a simpatia
de Deiviny, pois mostrava-se com um perfil adorável, de homem inteligente,
sensível, bem informado, carinhoso, cheio de amor para dar e também muito
carente (acreditava que esta era uma boa estratégia), afinal, como ele contara,
havia se separado da esposa fazia dois anos e se sentia muito só. Tinha uma
filha de seis anos para criar, já que a esposa fugira com o dançarino da boate,
onde Kelvin um dia, fazia mais de dez anos, a conhecera também como dançarina,
se apaixonaram e acabaram se casando. Ele dizia para Rubi que a esposa dele
parecia regenerada de sua vida de aventuras loucas e que durante os oito anos
de casamento ela se comportara muito bem. Ele viajava muito a trabalho e ficava
vários dias fora de casa, até que numa volta inesperada de uma dessas viagens,
constatou que a esposa continuava frequentando a mesma boate, embora não se
apresentasse mais como dançarina. Desiludiu-se e jurou nunca mais confiar em
uma mulher. Entretanto, a solidão foi pesando e então surgiu Rubi, uma mulher
madura, apesar de ser mais nova que ele, amável, doce, carinhosa, de uma
simplicidade encantadora, mas que sabia o que queria e ele então passou a
confiar e acreditar que poderia ser feliz novamente. Além disso, tinha certeza
que ela seria uma excelente mãe para a filha dele, o que ele supunha, deixava
Rubi muito envaidecida.
Rubi acreditava
em coisas do destino e conhecer logo Topázio não poderia ser mera coincidência,
eles eram duas pedras preciosas prontas para se tornarem uma jóia única. Ele se
mostrava humilde e dizia que enfim encontrara o seu verdadeiro tesouro e que
talvez nem a merecesse. Passavam horas teclando no computador e a cada dia se
diziam mais apaixonados. Não foi difícil convencê-la de que muito em breve ele
iria conhecê-la pessoalmente. Para ele não seria nenhum empecilho que ela
morasse em outro estado, pois estava pronto até para mudar-se para perto de
Rubi, se ela assim desejasse. Ela por sua vez, o fazia acreditar que Kelvin era
o homem perfeito e sonhava com esse encontro. Gostava de fantasiar, de desenhar
o retrato desse homem em sua mente como o tipo perfeito, contudo, ela dizia-lhe
que algo a intrigava muito. Topázio se recusava a enviar-lhe uma foto por
e-mail, dizia que não tinha fotos arquivadas em seu computador e que não sabia
como fazer isso, mas prometia em cada despedida que no dia seguinte pediria a
alguém para ajudá-lo a providenciar uma foto, para então enviá-la. Ele também
insistia muito para que ela lhe enviasse uma foto, mas Rubi usava do argumento
que só enviaria quando recebesse uma dele.
Passaram-se
alguns meses e ele não fazia a menor ideia de qual seria a imagem verdadeira
daquela adorável moça. O namoro virtual ficava a cada dia mais ardente e já
parecia impossível que não vivessem mais um sem o outro. Topázio marcou então o
primeiro encontro, seria naquela próxima semana. Ele viajaria para a cidade de
Rubi e passaria pelo menos uns três dias com ela. Era grande a expectativa, a
ansiedade e a vontade dela de ver o “seu príncipe”. Naquela semana foram muitos
os preparativos, roupas e sapatos novos, cabeleireiro, manicure... Precisava
estar mais bela do que nunca.
Na última vez que
teclaram, dia que antecedia a viagem de Topázio, trataram dos detalhes finais
como, local onde ele se hospedaria, horário que ela o encontraria e o mais
importante, como se reconheceriam, já que nunca haviam visto sequer uma foto um
do outro. Combinaram então que Rubi procurasse por ele no restaurante do hotel
no qual fizera sua reserva. Ele já havia se informado por telefone sobre a
posição de certa mesa no restaurante, a única que ficava atrás de uma pilastra,
a qual tinha pendurado um quadro com a pintura da vista noturna da cidade dela.
Assim ficou fácil, não haveria chance de erro de não reconhecê-lo.
Era uma sexta
feira e Deiviny aprontou-se toda, foi ao encontro de seu “destino”.
Entreolharam-se. Ela sorria. Ele estupefato, não podia crer no que via. Kelvin
não poderia jamais supor que a sua Rubi era a sua ex-esposa, quem de propósito
seguiu-lhe os passos nos sites de relacionamentos, durante quase um ano. Quando
ainda eram recém casados, casamento que durou apenas uns meses, um dia
acidentalmente e por grande descuido, ele deixou minimizada uma página na qual
ele contava a mesma história de uma suposta ex-esposa e ex-dançarina de boate,
para uma moça de pseudônimo “Flor de Maracujá”. Deiviny não suportou, separou-se
do marido e voltou para a casa dos pais no Sul do país.
Deiviny era um
falso nome e Rubi era um dos vários pseudônimos que Margareth usava para
aproximar-se de seu ex-marido Kelvin nas salas de bate papo, ele que nunca
atinou em variar o seu pseudônimo, Topázio.
Não se ouviu
nenhuma voz naquela mesa do restaurante, exceto a do garçon, que se aproximou e
perguntou: Senhor, precisa de ajuda? O senhor está passando mal e tenho a
impressão que teve um breve desmaio. Enquanto isto, Margareth já na calçada,
gargalhava alto e alguém que passava por ela resmungava: parece louca!
NOTA DA AUTORA:
Página do destino
foi premiado em segundo lugar no Concurso Internacional «Cuarto concurso
edición cuento de poetastrabajando.com — Proyecto escarlata Diciembre 2012»,
editado em Português e Espanhol.
CELÊDIAN ASSIS DE
SOUSA é mineira, nutricionista e tem formação incompleta em Letras. O gosto
pela literatura surgiu na infância, mas só em 2009 começou a registrar e
publicar seus escritos na web. Participação em dois livros, coletâneas
(«Gandavos» I e II, em breve o III) como escritora, colaboradora literária,
revisora de textos de alguns dos autores, apresentação das obras do autor
Carlos Lopes — «A Saga de um Pedro» e «Dedos de Prosa». Publicações em revistas
online: «Revista LetrA-Z» de poetastrabajando em Português/Espanhol;
«MalambaDoce/Recanto das Letras»; conto
premiado em concurso internacional; participação em antologia de poesias (livro
físico) a ser lançado em breve no Canadá. Em fase de revisão e edição do livro
autoral de poesias — «Entre voos e pousos nas asas da poesia». Apresentação e
prefácios das obras: «Ardentia», Claudio Poeta; «Variações assimétricas dos
pensamentos», João V. Velloso; depoimento em obra de J.Estanislau, além de
revisões de várias obras pela editora mineira Interface Olympus.
Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados à autora. Esta obra é parte da coletânea 15 Contos+ Volume II, Helena Frenzel Ed. e está licenciada sob uma Licença Creative Commons 2.5 Brasil. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
Muito legal....isso deve acontecer com recorrência maior que imaginamos
ResponderExcluirSentimos a fatalidade se aproximando... Parece que assistimos a um filme de suspense com teor psicológico fascinante! Parabéns Celêdian, sua literatura nos prende do começo ao fim. Como é admirável um autor capaz de criar uma atmosfera real dentro da imaginação. Bravo, beijo querida amiga. Cristina Jordano
ResponderExcluirUma narrativa que prende o leitor, que o envolve em suas malhas até um ótimo desfecho! Parabéns, Um abraço, Beatriz.
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