Por Raphael Reis
A imagem era a de
um caos naqueles metros quadrados: lixo esparramado por todo lado, bichos
asquerosos e odor fétido. À noite tudo isso parecia ainda mais aterrorizante,
mais intenso.
Percebi uma
barata, cascuda, ziguezagueando à procura de migalhas e insetos mortos. Logo,
teve que fugir de uma perseguição de insistentes pisadas. Tonta, conseguiu se
esconder atrás de umas sacolas cheias de material orgânico. Para minha imensa
surpresa ou loucura, presenciei uma metamorfose: a barata se transformara em
uma imensa e repugnante ratazana.
Como ratazana,
passou a devorar com voracidade todo aquele lixo, e havendo tentativa de alguém
acuá-la, respondia ferozmente com seus dentes amarelados em posição de ataque.
Um grupo de
garotos que passava por aquele viaduto reparou na ratazana e começaram a correr
atrás dela, dando-lhe pedradas, ora acertando em sua cabeça, ora acertando em
suas patas. Já cansada de correr, machucada em todo o corpo, caiu ofegante. O
golpe fatal foi uma bastonada de ferro na cabeça – o sangue correu pela
calçada.
Foi aí que
percebi que estava sem meus óculos. Os procurei desesperadamente em meu paletó,
colocando-os de imediato.
Meu Deus! Não era
barata nem ratazana; era um homem! Horror! Horror!
RAPHAEL REIS é
mestrando em Educação (UFJF), especialista em Políticas Públicas (UFJF) e
graduado em História (UFJF). É autor do livro «Contos que Machado de Assis e
Jorge Luis Borges Elogiaram» e editor da Revista Encontro Literário (ISSN
2237-9401, revistaencontroliterario.blogspot.com).
Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados ao autor. Esta obra é parte da coletânea 15 Contos+ Volume II, Helena Frenzel Ed. e está licenciada sob uma Licença Creative Commons 2.5 Brasil. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
Este foi de arrepiar! Lembrou-me Kafka e a metamorfose.
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